09/05/2010

Cordas do Sol em concerto no Luxembugo (1 Maio 2010)

Com o concerto de sábado à noite no Hall Irbicht (Beringen/Merch), ficámos com a certeza que o novo álbum Lume d’Lenha, dos Cordas do Sol é já o resultado natural do amadurecimento do grupo de S. Antão.
   O concerto arrancou ao som de Viva Kel Bolo, levando de imediato o público a dissolver-se no ambiente ritmado e quente, ao estilo kolá, que os Cordas do Sol emanavam do palco.
O repertório englobava temas de alguns trabalhos anteriores e novidades como Kalá Kalá ou Manhe Joana, entre outras, que, em crescendo, contagiaram as cerca de oitocentas pessoas, com danças, aplausos, e outras manifestações de carinho e reconhecimento da performance da banda cabo-verdiana.
      Segundo o líder do grupo, Arlindo Évora, neste novo álbum - Lume d’Lenha (que, segundo a crítica, é o melhor do grupo) “houve mais paciência, mais maturidade. Falamos não só de temas da nossa ilha, mas também de assuntos globais como a problemática dos direitos da criança, liberdade de expressão, direito ao ensino e outros temas sociais, bem como do amor imaterial”. Cordas do Sol tem 15 anos e vida e 10 de estrada e o paralelismo com o seu percurso é claro: “a comida feita no lume de lenha demora a ficar pronta, mas no fim é muito saborosa”, acrescenta.
   Esta é a segunda da vez que os Cordas do Sol actuam no Luxemburgo, fechando desta vez a tournée de promoção de Lume d’Lenha, depois da passagem por Paris, Portugal e Holanda.
   Para breve, Arlindo Évora garante a participação da banda no festival Baía das Gatas e em mais outros dois festivais.
   Sem perder tempo, já neste próximo fim-de-semana voltam a promover o disco na capital cabo-verdiana.
A primeira parte do concerto esteve a cargo de uma das promessas da música cabo-verdiana, Cassandra Lobo (na foto ao lado), que num tom intimista e marcado com fusões do afro-jazz, fez lembrar as sonoridades de Lura ou Mayra Andrade.
Segundo o seu representante, Rodrigues Joaquim, “até ao momento tem actuado em festas cabo-verdianas e não só, mas espera-se para breve a apresentação do seu trabalho no mercado para que as pessoas possam conhecer a identidade de Cassandra Lobo, radicada no Luxemburgo e sobrinha de Ildo Lobo”.
Para a organização, Neusa Monteiro (Associação S. Vicente), o balanço foi positivo. “Trabalhar na cultura é o nosso objectivo e o espectáculo foi perfeito”. Já para Antão Freitas (Associação Estrela Amadora do Norte), a presença dos Cordas do Sol foi uma prenda para o 26º aniversário da associação.
HB

Cláudia Lopes eleita Miss Cabo Verde no Luxemburgo (17 Abril 2010)

(Foto: Benji Santos/CONTACTO )
O Hall Victor Hugo (Limpertsberg) viu a noite deste sábado ganhar mais dez estrelas. As beldades das ilhas da morabeza lutavam para o título “Miss Cabo Verde no Luxemburgo” e o astro que mais brilhou foi Cláudia Lopes da Graça.
Cláudia, sucessora de Carla Fernandes, tem dezoito anos, é natural da ilha de S. Antão e actualmente estuda Turismo.
A eleita como Primeira Dama de Honor foi Jayza Rosa (22 anos), enquanto Aracy Delgado (21) foi a escolhida como Segunda Dama de Honor.
Houve ainda menção para a Miss Fotogenia, Dalila Desiré (18), e para a Miss Simpatia, Marilene Brito (24), estas duas naturais do Luxemburgo.
   Beleza, elegância, graciosidade e classe foram os pontos que o júri teve em conta para a deliberação final, numa noite bastante animada e concorrida por mais de um milhar de assistentes.
   Depois do desfile com roupa desportiva as candidatas expuseram uma curta apresentação sobre a história de Cabo Verde e as suas dez ilhas.
   Seguiu-se depois o desfile em fato de banho, com peças da estilista cabo-verdiana Eulécia Monteiro e, a fechar a noite, o público teve ainda o regalo de presenciar a classe das dez aspirantes com os respectivos vestidos de noite.
   Para o Comité Miss Cabo Verde no Luxemburgo, que organiza o evento, o balanço foi positivo, tendo em conta a dificuldade do júri nas escolhas, o número de assistentes e a animação trazida pelos músicos parisienses Atim e Elísio.  No entanto, refere a vice-presidente do comité, Salete Rocha Fonseca, que “não é fácil levar a cabo este evento porque não temos apoio, por exemplo do governo, para nos ajudar a encontrar sala”. Acrescenta, ainda assim, que apesar dos obstáculos, “o objectivo é sempre promover a comunidade e dar a possibilidade a algumas jovens cabo-verdianas de participar em alguns eventos no Luxemburgo, como por exemplo, no dia 23 de Junho, na festa nacional e em desfiles de moda”.Salete Fonseca aproveitou ainda para lançar apelo à participação de mais candidatas para 2011. “Para quem quiser participar basta ter entre os 17 e 25 anos, mínimo de 1,60 e ter nacionalidade cabo-verdiana ou ter um dos pais de origem cabo-verdiana”.
   Já após a coroação da Miss, o Contacto falou com Cláudia Lopes, que ainda emocionada, referiu que “não estava à espera de ganhar”. Revela que contou com o apoio da família, destacando o papel da sua mãe.
   Depois de Salete Fonseca ter relembrado que “a nova responsabilidade da Miss Cabo Verde é moral, uma pessoa séria, com uma certa virtude”, esta bela mulata de olhos castanhos respondeu ao repto afirmando que vai estar à altura. “Sei das responsabilidades e estou preparada”.
   Para quem tem dezoito anos, revela já alguma determinação quando assume, “prefiro ser modelo que seguir a área do turismo”. Se for esse o seu futuro, pode-se dizer que tem já a seu favor um “corpo natural”, exigência, sorriso e simpatia.
   A finalizar deixou uma mensagem para as futuras candidatas: “que sejam um exemplo para os outros dêem o seu melhor.
                                                       HB

Luxemburgo reforça ajuda financeira a Cabo Verde (11 e 12 Abril 2010)

(Foto: Gerry Huberty/CONTACTO)
O primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, foi recebido nesta segunda-feira pelo seu homólogo luxemburguês, Jean-Claude Juncker, na sequência do seu périplo pela Europa.
No encontro debateu-se o pacote de apoio financeiro a Cabo Verde, que Luxemburgo vai aumentar de 45 milhões para cerca de 60 milhões de euros.
Em cima da mesa esteve também o reforço da parceria em áreas estratégicas como as trocas comerciais, o turismo, a indústria e o nível das universidades. Outra hipótese avançada é a possibilidade da abertura de uma linha aérea entre os dois países para também reforçar o turismo luxemburguês em Cabo Verde.
   A novidade do encontro, no entanto, foi a parceria trilateral entre Cabo Verde, Luxemburgo e São Tomé e Príncipe.
   Recorde-se que antes de chegar a Europa, Neves passou por São Tomé e Príncipe, país que acolhe uma enorme comunidade cabo-verdiana que ainda passa por grandes dificuldades, e vê agora realizada a promessa que deixara ao seu homólogo são-tomense, Rafael Branco, de conseguir este apoio estratégico para São Tomé e Príncipe.
   Neves reuniu-se ainda com o Grão-Duque de Luxemburgo, Henri, o Presidente da Câmara dos Deputados, Laurent Mosar e com a Comissão dos Negócios Estrangeiros da Câmara dos Deputados para debater as relações entre os dois países e a política diplomática cabo-verdiana.
   Já no domingo, o primeiro-ministro cabo-verdiano encontrou-se com a comunidade na Abadia de Neumünster com o objectivo de “dialogar para avaliar o percurso e perspectivar o futuro.”
   Recordando o rumo e visão que tem para o país, JMN apresentou ao auditório as prioridades para “a profunda transformação do país”, que passam pela aposta no “turismo, transportes, cultura, aproveitamento do mar, tecnologias de informação e comunicação”.
   Outra aposta deste governo é “fazer de Cabo Verde o Luxemburgo daquela região africana, criando um centro financeiro, que até agora já conta com 12 instituições financeiras internacionais, 5 bancos e uma bolsa de valores”, refere.
   Mas para isto é preciso continuar a “investir nas potencialidades do país”.
   À cabeça dessas potencialidades está o capital humano e como prova disso, JMN referiu que “23% do orçamento do estado é dirigido à educação/formação, que conta com 50 liceus no país, 8 instituições de ensino superior suportando cerca de 10 mil estudantes”.
   Em véspera anual de eleições presidenciais e legislativas, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Carlos Brito, garantiu que “a partir de agora qualquer cabo-verdiano na diáspora pode obter a nacionalidade e se recensear”, usando os serviços consulares como Conservador dos Registos Centrais e desta forma também exercer o direito a voto.
   Com uma sala cheia, JMN teve ainda tempo para ouvir os agradecimentos e as preocupações da comunidade.
   A abrir a sessão das perguntas, o jovem António Lopes Tavares, manifestou a sua “indignação pelo facto de a formação não estar a conseguir ser a base de desenvolvimento social e humano na comunidade no Luxemburgo”.
   “Os filhos ainda não podem sonhar em ser melhor que os pais e é urgente criar um plano de reinserção dos jovens”, acrescentou.
   Entre as queixas, contam-se os preços exorbitantes da habitação, o aumento da desconfiança por parte dos bancos e a consequente dificuldade em obter garantias bancárias, o que está a gerar grandes dificuldades na comunidade.
   O auditório mostrou-se ainda atento às questões internas abordando a descentralização dos serviços, a revisão da legislação face à onda de criminalidade, a discriminação sentida pelos emigrantes quando estão de visita à sua terra natal, o hipotético cenário da construção de mesquitas e o financiamento do Banco de Desenvolvimento Árabe, entre outros temas.
HB

50 anos da presença da comunidade cabo-vediana no Luxemburgo (17 Março 2010)

A imigração cabo-verdiana no Luxemburgo começou no início da década de 1960, à semelhança da portuguesa. Hoje, “pode chegar aos 8 mil”, segundo números da Embaixada de Cabo Verde no Luxemburgo.
"Os primeiros cabo-verdianos a chegaram ao Luxemburgo, em 1963/64 vieram da Mosela francesa”, conta Pedro Santos (mais conhecido na comunidade pela alcunha de "Piduca", na foto abaixo), dirigente da Associação Luso-Cabo-Verdiana.

Segundo o presidente da Associação Amizade Cabo Verde – Luxemburgo, Firmino Neves, criou-se em Dommeldange o “primeiro grupo”, com Carlos Costa, Afonso Pires, entre outros, mas é a 31 de Agosto de 75 que nasce a primeira associação oficial cabo-verdiana – Ettelbruck, como dava conta o jornal CONTACTO na sua edição de Setembro de 1975 (pág. 3), levada a cabo por José da Luz e Armando Brito. Piduca ajuda nas contas: "E a 2 de Fevereiro de 1979 aparece a segunda, a Luso-cabo-verdiana, vulgo FC Amílcar Cabral". Hoje são cerca de 30 e nas mais diversas áreas de actuação e consoante as regiões em que os cabo-verdianos se concentram mais: na capital, Ettelbruck, Esch/Alzette e Differdange, revelam os dirigentes.

A chegada, a integração e a comunidade

Carlos Silva (acompanhado da esposa na segunda foto), hoje com 85 anos, estava no fim dos anos 50 em Metz e assegura que foi um dos primeiros cabo-verdianos a chegar a essa região.
“A integração não foi fácil. Eu trabalhava nas estradas e as condições não eram as mesmas de hoje”, recorda. “Depois vim para o Grão-Ducado, em 1959. A ideia não era ficar no Luxemburgo”, mas com a guerra do Ultramar, Carlos decidiu ir buscar os filhos a Cabo Verde antes de estes chegarem à idade da tropa e trouxe a família para cá.

Em 1974, com 18 anos, chega ao Luxemburgo João da Luz (terceira foto), filho de José da Luz (fundador da primeira associação cabo-verdiana no país). João confia que foi num dos liceus da capital que sentiu “os primeiros conflitos e discriminação” e lembra a mentalidade dos professores: “Os estrangeiros tinham de ter o mínimo de formação para irem trabalhar o quanto antes na construção civil.”
“O Luxemburgo era vazio em casas, estradas, imigrantes, mas os cabo-verdianos e portugueses tinham uma comunidade formidável, uma grande família”, recorda.
   Nelson Neves nasceu em Santo Antão e veio de Cabo Verde com sete anos de idade, em 1980. O primeiro choque foi com a “hora para a refeição, hora de brincar e da escola, foi dura a adaptação!”, começa por dizer. Em Diekirch “eram poucas as pessoas de cor e as crianças às vezes eram cruéis, chamavam-me negro e outras coisas”. Mas Nelson vingou na escola e formou-se em pintura e decoração.
   Fátima Monteiro, residente em Ettelbruck, deixou Portugal em 2003 sem hesitar. “Se me chamassem para a França, era a França, mas não houve escolha. Um amigo cabo-verdiano chamou-nos para o Luxemburgo porque não havia trabalho em Portugal", conta. E lembra que foi com a ajuda de uma portuguesa que encontrou o seu primeiro trabalho neste país.
   Humberto da Graça, residente na cidade do Luxemburgo, chegou de Cabo Verde em 1988 e lembra que foi “bem recebido”.
   “A comunidade era reduzida. Havia futebol e festas nos locais onde os cabo-verdianos se encontravam para tomar um copo e conversar”. "Hoje", ressalva, "a união mantém-se, mas está um pouco mais espalhada.”
Uma das recentes e bem coroadas chegadas foi a de Ana Santos, 32 anos, secretária na Citco Bank. “Nunca pensei vir cá para o Luxemburgo, até o momento em que fiquei desempregada em Portugal”. Mas se encontrou trabalho numa instituição bancária de prestígio, nem tudo o que veio cá encontrar lhe traz boas memórias. Recorda como em 2008, da casa de uma amiga portuguesa que vivia na rue de Strasbourg (na capital), via “a parte da comunidade cabo-verdiana menos integrada, com as suas festas, confusões e brigas". "Tínhamos espectáculos de graça quase todos os fins-de-semana”, ironiza.

Preocupações e desafios

Para Fátima e Carlos, “o desemprego é hoje o principal problema da comunidade cabo-verdiana”. Ana Santos apresenta outra visão: “Acho a nossa comunidade fechada, como a dos brasileiros, que fazem as suas festas apenas para si próprios”.
   Nelson, que passou pelo sistema de ensino luxemburguês, comenta o que conhece: “Fico triste quando vejo jovens cabo-verdianos a abandonarem os estudos, o que leva os luxemburgueses a pensar que o nosso povo não é capaz. Fico triste porque isso não corresponde à verdade”.
   Humberto também lamenta: “Há muito tempo que estamos aqui e temos ainda poucos quadros. Há qualquer coisa que não está bem no sistema de educação [no Luxemburgo]”. Humberto formou um grupo de contradança (dança típica cabo-verdiana) e confia que “gostava de ensinar as danças tradicionais do seu país aos mais pequenos, como forma de estes guardarem a sua cultura de origem”. Considera que a comunidade tem “ignorado a sua própria cultura, sem lhe dar apoio".
   João da Luz lembra que no seu tempo “o sistema escolar luxemburguês, já era muito baseado na língua alemã e isso travou a sua geração no acesso a um melhor emprego". E é por isso que alerta os jovens cabo-verdianos de hoje: "Sem formação podemos ser esmagados por outros”.
   Para Firmino Neves, "os problemas da comunidade são encontrar um patrão, ter um documento na mão, os preços exorbitantes da habitação e a falta de união na comunidade.”
   Já para Piduca, um dos problemas que a comunidade enfrenta e a que mais lamenta é a de “os luxemburgueses continuarem apreensivos em relação aos estrangeiros e sobretudo às pessoas de cor”.

Concretizações e oportunidades


“Hoje, tudo o que tenho é graças ao Luxemburgo”, diz Nelson Neves, que fora das horas em que pinta trabalha como funcionário do Estado num laboratório. “Pensava que trabalhar na Função Pública era só reservado aos luxemburgueses, mas é um erro pensar assim.” Conta como concorreu a um trabalho entre dois mil outros candidatos e conseguiu. O que o faz afirmar hoje peremptório: “Se eu consegui, outros também podem conseguir”.
   Nelson conta igualmente que teve apoio quando quis expor as suas obras em Paris e Cabo Verde. “O Estado luxemburguês dá apoios, mas a comunidade [cabo-verdiana] não apresenta projectos”, diz.
   Fátima concorda que o Luxemburgo tem muitos lados positivos: “Aqui pagam-nos salários razoavelmente bons. Se uma pessoa tem organização, consegue fazer a sua vida.”
   Na mesma linha, Humberto refere: “Conheço muita gente que viveu 40 anos em Portugal, mas só 10 anos daqui [Luxemburgo] têm mais vantagem do que esses 40 anos.” E revela-nos o seu sonho: “Gostava de ver um dia os filhos de cabo-verdianos a estudar na Universidade.”
   Ana Santos reconhece que “aqui há oportunidades e uma pessoa pode evoluir e fazer carreira.” O seu desejo era que “os cabo-verdianos pudessem naturalizar-se e ocupar cargos administrativos ou outros postos que normalmente são atribuídos a outras nacionalidades.”
   “Muitos conseguiram trabalho de forma honesta e adaptaram-se bem”, limita-se a dizer Carlos e a sua principal referência é a sua própria vida.
   João da Luz prefere deixar o mote: “Esta não é uma sociedade fechada, mas é uma sociedade de combate”.
   Para Piduca, “apesar de tudo, o Luxemburgo é um país acolhedor, porque mesmo no desemprego pode-se superar os problemas, melhor do que em outros países”. “Um cabo-verdiano que viva cá no Luxemburgo tem outra dinâmica de vida”, remata por seu lado Firmino.

Relação com as outras comunidades lusófonas


E como são as relações entre a comunidade cabo-verdiana e as outras comunidades lusófonas, quis ainda saber o CONTACTO.
   Se para Humberto “existe uma boa relação entre as comunidades lusófonas”, já para Ana Santos, “estas convivem quando têm de conviver, embora muitos tentem integrar-se.”
   Fátima diz que há “algumas desavenças, porque alguns portugueses pensam que são superiores a nós, mas no fundo entendemo-nos bem.”
   João da Luz recua no tempo e lembra que nos anos 70 “cabo-verdianos e portugueses viviam juntos, numa relação de amizade, mas a partir dos anos 80, os retornados de África trouxeram esse ódio com eles e houve fortes fricções”. "Hoje, no desporto estamos todos juntos, mas nas manifestações culturais, cada um organiza as suas coisas e, tecnicamente, não há lusofonia”, lamenta João.
   Nelson defende que devia haver “mais união, porque as nossas culturas têm muitas semelhanças, o português é língua oficial [de Cabo Verde], somos todos emigrantes e é mais fácil enfrentarmos os problemas juntos.”
   “O FC Amílcar Cabral entrou no campeonato português do Luxemburgo em 1981 e isso mostra que sempre houve laços. Mas, por outro lado, nesse campeonato não há equipas guineenses, brasileiras ou angolanas”, nota Piduca.
      
 Firmino lembra como nos anos 70, "éramos conhecidos aqui todos como portugueses", nessa altura, lembra, "não se falava de cabo-verdianos”.E para dar o exemplo da interculturalidade, Firmino (na foto ao lado) a sua própria associação: "a Amizade Cabo Verde-Luxemburgo ensina francês e luxemburguês a guineenses, portugueses, brasileiros, angolanos, são-tomenses e não só a cabo-verdianos. Temos trabalhado sempre juntos”.
HB

OCL passa a denominar-se Federação das Associações Cabo-verdianas no Luxemburgo (14 Março 2010)

(Foto: Henrique de Burgo. Da esquerda para a direita: José Maurício, João da Luz e Osvaldo Silva)
A Organização dos Cabo-verdianos no Luxemburgo (OCL) transformou-se domingo em Federação das Associações Cabo-verdianas no Luxemburgo (FACVL), fruto da alteração dos estatutos - decisão aprovada na assembleia geral da organização que decorreu no Centro Social, na rua de Strasbourg, na capital.
Para João da Luz, presidente da assembleia geral, o encontro foi “histórico”. “A partir de hoje começa a funcionar a nova federação. O futuro nos vai dar razão de estarmos hoje nesta sala”, acrescentou.
A revisão dos estatutos foi preparada por Jean-Pierre Dichter, Pedros Santos, entre outros, como resposta às novas exigências legais do país.
   A assembleia geral decorreu na capital Luxemburguesa e contou com a presença da comissão organizadora, diversas associações e da encarregada de negócios da embaixada de Cabo Verde – Clara Delgado.
   A diplomata cabo-verdiana usou da palavra para apelar à união da “utilidade de todas as associações numa federação” relembrando que será assim “mais fácil obter resultados”. Por outro lado, facilitará “o diálogo com os luxemburgueses e com a embaixada”.
   Clara Delgado mostrou-se ainda disponível à discussão conjunta com a FACVL, de uma “agenda útil para a sociedade”.
   O presidente cessante da OCL, José Maurício, lembra: “Desde o primeiro congresso, em que fui eleito como presidente, tentei defender uma organização que fosse neste sentido, mas agora são as associações que têm de acreditar e apoiar o projecto”.
   João da Luz apelou ainda ao “sacrifício” e “assumir das responsabilidades” por parte das associações. Estas, por sua vez, manifestaram esperança na federação.
   Germana Delgado (Comité Spencer) espera que a FACVL “consiga pôr as associações a trabalhar em conjunto para representar os cabo-verdianos aos olhos do Estado luxemburguês”.
   Deolinda dos Santos (Associação São Vicente) acredita que a federação pode coordenar o “calendário de actividades” evitando, por exemplo que “duas associações façam o mesmo torneio de Páscoa”.
   Já para Antão Freitas (Associação Estrela Amadora), quer uma federação “mais forte e coesa” e que dê às associações “confiança para aderir”.
   A associação Black Boys, representada por Victor Martins, acredita mais nos seus projectos. “Queremos criar uma escola de futebol em S. Miguel, Santiago” e agora “é mais fácil”.
   Para Joana Ferreira (APADOC), a FACVL lhes pode ajudar no “diálogo com o ministério da educação” e suprir a “ausência” das associações junto do “governo luxemburguês”.
   O próximo passo da FACVL para breve: a eleição do presidente.
HB

“Governo vê no poder local um concorrente”, acusa Jorge Santos (27 Fevereiro 2010)

À margem de uma visita ao Luxemburgo, o vice-presidente do MpD, Jorge Santos reagiu à notícia que dava conta do abandono dos autarcas do MpD na reunião com o primeiro-ministro, afirmando que esta situação “já era previsível”.
   Na origem do abandono da reunião por parte dos autarcas ventoinhas terá estado o extremar de posições entre as partes, já que a Associação Nacional de Municípios queria ver contemplada no encontro a sua agenda proposta na reunião previamente realizada na Assomada, e viu-se confrontada com a “postura unicista e centralizadora” de José Maria Neves, vendo ameaçada a sua autonomia. “Foi a gota que fez transbordar o copo de água”, acrescenta Jorge Santos.
  A reunião seria para discutir o saneamento, competência executiva a cargo dos municípios, mas também com responsabilidades do governo.
   Jorge Santos garante que o governo, em vez de negociar um pacote de apoio às câmaras municipais, quer criar uma outra instituição que vai retirar essa competência do poder local e vai recorrer ao endividamento externo. "A situação é preocupante e nota-se a tendência de centralizar todas as competências do governo, minimizando e marginalizando o poder local, travando o seu desenvolvimento. É uma estratégia que vem desde 2008, quando o MpD ganhou a maioria das câmaras”.
  Para justificar as suas palavras, Jorge Santos dá os exemplos do "sufoco financeiro das câmaras, o dificultar da cooperação descentralizada e do projecto da polícia municipal na Praia para diminuir o clima de insegurança".
   O número dois do MpD aponta ainda a questão da habitação social como outro exemplo de "atentado permanente à autonomia do poder local em Cabo Verde". Refere que "projectos feitos à margem das autarquias e atribuídas a associações comunitárias têm funcionado como autarquias paralelas e que recebem o financiamento que deveria ser destinado aos projectos das câmaras, financiamento esse que é o principal problema do poder local".
   Adianta igualmente que o “governo tem recorrido ao endividamento externo para conseguir recursos para fazer face aos problemas como a habitação e relembra a dívida de 200 milhões de Euros com Portugal.
   Termina fazendo referência aos “terrenos abocanhados” pelo governo às câmaras, através de uma lei criada pelo próprio governo.  “Agora é o governo quem dá terreno às câmaras”, acrescenta.
   Segundo Jorge Santos, o MpD defende um modelo descentralizado e a complementaridade entre instituições, reforçando as autarquias. Diz ainda que, sobre esta matéria "o governo manifesta uma matriz muito à esquerda e que vê no poder local um concorrente, em vez de um parceiro.”

“Brava foi excluída do processo de desenvolvimento”

Questionado sobre a marginalização que a ilha Brava tem sentido, Jorge Santos foi peremptório ao afirmar que “a Brava foi excluída do processo de desenvolvimento por parte do governo. Desde 2001 que o primeiro-ministro tem anunciado que é o ano da Brava, dizendo que a Brava é a flor, o perfume de Cabo Verde, mas entretanto, só tem feito promessas e não tem cumprido nada”.
   Concretamente sobre as ligações à ilha, Jorge Santos diz que este governo “inventou que Brava não pode ter aeroporto, enquanto o MpD quer uma solução para o aeroporto da Brava. A não ser a construção de uma rampa, o governo insiste em não investir no porto da Furna, enquanto o MpD fez a 1ª fase e mais do que isso”.
   Como alternativa, apresenta as áreas prioritárias para o desenvolvimento da Brava: "mais estradas, electrificação, água, modernização da agricultura, investimentos na área do turismo (mas com infra-estruturas) e uma forte aposta na formação profissional".
   Contudo, não deixa de apontar o dedo à falta de “estratégia de desenvolvimento ligada à forte comunidade bravense nos Estados Unidos”, considerando que o desenvolvimento não irá para a frente sem a comunidade emigrada.

Diálogo interno para as presidenciais

Sobre que candidato para as presidenciais de 2011, Jorge Santos afirma que "o partido está em diálogo interno para escolher e apoiar um candidato". Reconhece que no seio do partido há já algumas disponibilidades: Carlos Fonseca, Amílcar Spencer Lopes e Isaura Gomes, todos eles possibilidades, escusando-se para já em adiantar algo mais.
HB

Juncker encontra-se com vice-presidente do maior partido na oposição de Cabo Verde (27 Fevereiro 2010)

(Foto: Anouk Antony/CONTACTO. Da esquerda para a direita: Nelson Brito, Jorge Santos, Miguel Sousa e Nelson Costa Brito)
O primeiro-ministro Jean-Claude Juncker recebeu na semana passada o vice-presidente do Movimento para a Democracia de Cabo Verde, Jorge Santos.
   Do teor das conversas entre os dois dirigentes nada se sabe. O gabinete do primeiro-ministro limitou-se a dar nota às redacções da realização do encontro.
   Jorge Santos conclui no domingo uma visita à comunidade cabo-verdiana no Luxemburgo. No sábado, apresentou a agenda política para as comunidades cabo-verdianas, num jantar organizado pelo núcleo local do MpD, na cidade do Luxemburgo.
   O vice-presidente do maior partido da oposição em Cabo Verde defendeu "a criação do Alto Comissariado Nacional para a Emigração, legitimado pelo parlamento, para evitar a partidarização na relação Estado - comunidades". Além deste órgão, a criação de um "Provedor da Emigração, como garante e reforço dos direitos dos emigrantes e um Observatório do Emigrante, sendo o órgão controlador do recenseamento geral dos emigrantes e do nível de integração social, política e económica nos diferentes países, funcionando em Cabo Verde e nas comunidades".
   Jorge Santos defendeu ainda a criação do Estatuto do Investidor Emigrante em Cabo Verde, que "visaria uma maior participação económica por parte dos emigrantes, gozando de um abaixamento fiscal e algumas isenções, tal como acontece para os investidores externos".
   O número dois da oposição quer igualmente reformar as tarifas alfandegárias nacionais "para uma maior participação dos emigrantes no desenvolvimento do país, através das remessas de bens móveis e imóveis".
   Com uma sala repleta de três centenas de militantes e representantes de delegações da Holanda, Itália, França e Portugal, e em véspera anual de eleições legislativas e presidenciais, Jorge Santos apelou à "união e participação mais activa dos cabo-verdianos na vida política e social". Não só o exercício do direito de voto nas eleições de Cabo Verde e Luxemburgo, mas verdadeiros actores políticos, tal como acontece com os cabo-verdianos nos Estados Unidos, Holanda e S. Tomé.
   Mas para tal, segundo o delegado local ventoinha, Nelson Brito, "há que ultrapassar o maior desafio da comunidade – o recenseamento".
   Do contacto com a comunidade, Jorge Santos leva algumas preocupações: as altas tarifas de voo praticadas pela TACV e pela TAP de e para Cabo Verde, as taxas alfandegárias e a diminuição da segurança em Cabo Verde.
  Durante a visita, Jorge Santos encontrou-se ainda com representantes da Lux Development para reforçar cooperação entre os dois países, tendo sido abordados o investimento na educação e formação profissional, a promoção das políticas de saúde pública e a qualificação de quadros.
  Na sexta-feira, Jorge Santos foi recebido pelo ministro Michel Wolter. Desse encontro ficou agendada para Maio a visita oficial de Carlos Veiga (presidente do MpD) para a assinatura de um acordo de colaboração entre o MpD e o CSV, partidos da mesma família política.
   No mesmo dia esteve com os presidentes de câmara de Ettelbrück e Luxembourg-Ville, de quem ouviu que "a comunidade cabo-verdiana é trabalhadora e a melhor integrada no país".
   A terminar a visita, efectuou ainda visitas de cortesia ao primeiro-ministro Jean-Claude Juncker e ao príncipe Guillaume, acompanhado pelo deputado pela imigração, Miguel Sousa e pelo deputado eleito pelo círculo de S. Nicolau, Nelson Brito.
HB