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O primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, chefiou a delegação cabo-verdiana a Roterdão |
O encontro teve lugar em Roterdão, no sábado, e contou ainda com a
presença de Fernanda Fernandes, ministra das comunidades e antiga
encarregada de negócios no Luxemburgo entre 2005 e 2008, e ainda de
Mário Lúcio Sousa, ministro da Cultura, além de diplomatas de vários
países.
O Luxemburgo fez-se representar pela encarregada de negócios da
Embaixada de Cabo Verde no Grão-Ducado, Clara Delgado, mas estiveram
também presentes no encontro internacional diplomatas da Alemanha e do
Benelux. José Maria Neves exaltou as conquistas de Cabo Verde ao longo
da sua história e assinalou os desafios de governar um país assolado
pela escassez de recursos naturais.
"Um país que de riquezas só tem vento, sol, mar, e pouco mais, mas
também um país com muitas pedras preciosas, que são cada um dos
cabo-verdianos e cabo-verdianas que estão nas ilhas ou na diáspora",
disse o primeiro-ministro cabo-verdiano.
Roterdão, um dos primeiros destinos de emigração dos cabo-verdianos,
foi uma escolha natural para o encontro internacional, explicou José
Maria Neves.
"A Holanda foi uma cidade de luz e um dos principais apoiantes de
Cabo Verde na luta pela independência", disse o governante, sublinhando
que "foram os cabo-verdianos emigrantes na Holanda que mostraram o
caminho de Cabo Verde" e que contribuíram para que o país fosse "visto
com bons olhos" internacionalmente.
O governante reservou também uma palavra de agradecimento ao
Luxemburgo, com quem Cabo Verde tem há vários anos acordos de
cooperação.
"Não conseguimos retribuir a grandeza da cooperação com Cabo Verde", disse o primeiro-ministro.
Elogiando as comunidades na diáspora, José Maria Neves apelou à união
dos cabo-verdianos para ultrapassar os desafios do país e recordou a
importância de todos para a conquista da independência.
"O dia 5 de Julho foi o dia em que tomámos nas nossas mãos a
liberdade de escrever o nosso destino e assumimos a responsabilidade de
construir um país respeitado no mundo inteiro", recordou.
"Que futuro teria um país sem água, luz ou riquezas naturais? Temos
de ser justos com aqueles que começaram, que colocaram as primeiras
pedras e construíram os alicerces do país com a sua coragem e
determinação", acrescentou.
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Muitos foram os cabo-verdianos presentes em Roterdão |
"Ganhámos o desafio da independência e quinze anos depois fizemos a
abertura da democracia, ultrapassando vários desafios, e tornámo-nos
numa referência de democracia na África. Ocupamos a 27a posição no mundo
inteiro", disse José Maria Neves.
O primeiro-ministro cabo-verdiano lembrou também o convite de Obama
para visitar a Casa Branca e congratulou-se com o prestígio que Cabo
Verde conseguiu conquistar. "Nós somos um país africano, e representamos
uma África positiva, capaz e empreendedora", afirmou.
Para José Maria Neves, os maiores desafios no futuro são o
desenvolvimento do turismo sustentado, a criação de formas de
aproveitamento das águas da chuva, a construção de barragens, melhoria
dos aeroportos, portos e meios de transportes, e a valorização das
riquezas naturais e do mar, com o desenvolvimento de indústrias de
conserva e de transformação de peixe.
MINISTROS TAMBÉM DANÇARAM
A tarde foi animada com música ao vivo, com artistas como Américo Brito e Jaqueline Fortez, filha de emigrantes no Senegal.
O grupo de batucadeiras "Sima nos e so nos" conseguiu mesmo que Mário
Lúcio, ministro da Cultura de Cabo Verde, desse uns passinhos de dança,
passando depois a solada (pano tradicional usado no batuque) à ministra
das Comunidades, Fernanda Fernandes, que também dançou.
Foi da antiga encarregada de Negócios do Luxemburgo que veio um dos
discursos mais emotivos do dia. Fernanda Fernandes, que cresceu e
estudou em Portugal, diz que se sente por isso muito próxima dos
emigrantes cabo-verdianos, e apelou a que todos trabalhem em prol do
país.
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A ministra das Comunidades, Fernanda Fernandes, deu um pé de dança |
"Cada um de nós tem um compromisso para com Cabo Verde. Todos nós
podemos ajudar o país a tornar-se num país cada vez melhor", desafiou
Fernanda Fernandes, garantindo que está a fazer a sua parte, enquanto
ministra das Comunidades, um cargo que lhe dá prazer "por poder estar
perto das diásporas".
O encontro internacional serviu também para promover contactos
económicos, disse ao CONTACTO o cônsul-geral da Holanda, Belarmino
Monteiro Silva.
"Juntou-se o útil ao agradável, uma vez que, além desta grande festa
com os cabo-verdianos, também se proporcionaram encontros de interesse
económico para ambos os países. Estou extremamente contente e feliz pela
participação dos imigrantes residentes aqui na Holanda e também nos
países vizinhos, como o Luxemburgo, Bélgica, França e Alemanha, que se
juntaram a nós nesta celebração", disse ao CONTACTO o Belarmino
Monteiro.
O diplomata frisou a importância de assinalar a data da independência
do país junto dos cabo-verdianos e dos seus descendentes,
mostrando-lhes que "devem sentir-se orgulhosos pelo percurso de Cabo
Verde, que nos 38 anos de independência conseguiu passar de país pobre
para país de desenvolvimento médio".
"Não existem países grandes ou pequenos, existem grandes países e
pequenos países, e Cabo Verde é um grande país", sublinhou o cônsul na
Holanda.Na festa estiveram ainda muitos cabo-verdianos residentes na
Holanda.
Osvaldo Brito, a viver no país há 25 anos, garante que os
cabo-verdianos estão muito bem integrados na sociedade holandesa."A tal
ponto que quase nos esquecemos que somos cabo-verdianos e já não
precisamos das associações para esse efeito", disse ao CONTACTO.
Romira Rocha, outra emigrante cabo-verdiana na Holanda com quem o
CONTACTO falou, confirma a boa integração dos cabo-verdianos no país,
mas alerta para o desinteresse dos jovens pela educação e a formação
profissional, fortemente apoiada pelo governo holandês.
Antão Freitas, residente no Luxemburgo há mais de duas décadas,
representou a comunidade cabo-verdiana do Grão-Ducado nas comemorações
em Roterdão.
Num discurso emotivo, o presidente da associação Estrela do Norte,
sediada em Ettelbruck, e membro da Comissão Consultiva para Estrangeiros
de Schieren, agradeceu ao Luxemburgo pelas oportunidades que tem dado à
comunidade cabo-verdiana.
Antão Freitas elogiou ainda o apoio e a participação activa na vida
da comunidade da actual encarregada de negócios no Luxemburgo, Clara
Delgado.
Fonte: CONTACTO/Aleida Vieira, em Roterdão - texto e fotos