A CABOLUX teve acesso ao estudo “L’integration au Luxembourg. Indicateurs et dynamiques sociales – parcours de personnes originaires du Cap-Vert et de ex-Yugoslavie” e aproveitou para falar com os dois investigadores.
Sobre a comunidade cabo-verdiana, Frédéric Mertz refere que “há coisas a melhorar”, mas sem concretizar questiona se “quem deve melhorar a integração são os estrangeiros ou as autoridades também devem facilitar um enquadramento para as pessoas se integrarem?”
O estudo, além de constituir um documento de análise sobre a integração é também “um documento estratégico e importante para o mundo político poder medir a integração por forma a fazer progressos, já que geralmente se fixam em indicadores como a taxa de desemprego, casamentos mistos, contactos pessoais, etc.”, acrescenta Mertz.
Respondendo à pergunta se os políticos vão melhorar algo com a leitura deste estudo, Mertz responde que “o estudo conclui com recomendações políticas e os indicadores de integração devem ser negociados. Não são apenas os políticos que vão definir os indicadores importantes de integração. O estudo demonstra que os cabo-verdianos também apresentaram quais os indicadores mais importantes para eles, que são diferentes dos políticos. O trabalho, a escola, a língua, acesso à habitação e nacionalidade luxemburguesa são exemplo disso.”
Por esta razão “é preciso dar palavra aos estrangeiros para saber o que é mais importante aos seus olhos para se integrarem”, insiste.
“Do lado político há que criar, por exemplo, oportunidades para as pessoas aprenderem o francês, que é uma língua de integração, e o luxemburguês, que é também uma língua de integração, mas talvez mais no domínio do privado.”
Sobre o quotidiano, depois de alguma insistência, Annick Jacobs acaba por apontar algo a melhorar na comunidade cabo-verdiana:
“A nível escolar não é fácil encontrar um jovem cabo-verdiano que frequente o ensino geral clássico. A grande maioria se encontra no técnico” o que demonstra um problema de fundo: “observamos que frequentemente os cabo-verdianos chegam sem estarem preparados. Os pais chegam primeiro e alguns anos depois vêm os filhos e quando chegam, talvez com 10 anos, vão se encontrar um pouco perdidos no sistema escolar por causa da língua.”
Por outro lado, diz que há também boas práticas entre os cabo-verdianos e “o sector associativo tem um papel positivo porque recebe os novos imigrantes e é importante encaminhá-los para a obtenção da autorização de residência, etc.”
“Estas associações são a ponte entre a sociedade de acolhimento e os recém-chegados. São uma força e são reconhecidos por isso também”, reforça Mertz.
Relembre-se que os cabo-verdianos são a segunda comunidade mais numerosa (não-comunitária), depois dos ex-joguslavos.
Um candidato cabo-verdiano representa mais do que a comunidade cabo-verdiana
“Observamos que há um aumento de inscrições eleitorais por parte dos estrangeiros e a partir do momento que os políticos tomarem consciência que os eleitores estrangeiros não são 5, nem 10, mas mais do que 25 % do total dos eleitores no país, vamos começar a ter candidatos cabo-verdianos, portugueses, etc. nas listas partidárias e nesse momento é o jogo político, a democracia”, refere o investigador Frédéric Mertz.
No entanto, relembra que “antes de ser candidato há que ter o cartão de eleitor e aí os políticos vão poder ver a percentagem de eleitores e vão se sensibilizar a integrar candidatos desta ou daquela comunidade.”
Sobre esta possibilidade que o governo dá aos cabo-verdianos e a outros diz que “é já uma primeira etapa esta participação política e é importante porque permite ser representado, mas um candidato cabo-verdiano não representa só a comunidade cabo-verdiana, mas toda uma colectividade comunal, enfim, o interesse público.”
Tal como o caso Barack Obama, “aqui é mais do que um passo prático. É um passo simbólico, um reconhecimento da cidadania, onde a minha pátria não é apenas Cabo Verde, mas também o Luxemburgo porque tenho um representante e posso votar.”
HB
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