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12/04/2012

Luxemburgo financia WEBTV cabo-verdiana para as comunidades emigradas

A Cooperação Luxemburguesa financiou com 54 mil euros a nova WEBTV cabo-verdiana dirigida às comunidades emigradas, num projecto lançado esta semana na Cidade da Praia. O canal WEBTV Cabo Verde Global é uma iniciativa do Governo de Cabo Verde e vai ligar via Internet os cerca de meio milhão de habitantes do arquipélago aos 800 mil na diáspora.

O lançamento do novo canal, transmitido em directo para toda a comunidade cabo-verdiana em todo o mundo, insere-se num projecto mais vasto denominado "Infordiáspora", com o apoio da Instituto das Comunidades (IC) de Cabo Verde e a Cooperação Luxemburguesa, que o financiou em 54 mil euros.

"É um projecto global, interactivo e proactivo de informação, formação e comunicação de e para um Cabo Verde global, pelo que vai criar condições propícias para a intervenção activa e eficiente do IC no quadro da aproximação com a diáspora cabo-verdiana", disse à Agência Lusa a ministra das Comunidades local.

Fernanda Fernandes salientou que o novo canal vai disponibilizar "informações gerais e específicas actualizadas" do arquipélago, possibilitando, ao mesmo tempo, promover o contrário, uma vez que, através da Internet, torna-se possível a "interacção".

Questionada pela Lusa sobre a sustentabilidade do projecto, Fernanda Fernandes indicou que o financiamento do Luxemburgo é suficiente para os próximos 12 meses e que, depois, a sociedade civil cabo-verdiana e os parceiros internacionais poderão contribuir com meios financeiros ou outros, que se juntarão às receitas próprias.

Nesse sentido, foi criado um Centro de Produção Audiovisual e Multimédia, que fará reportagens, programas temáticos e documentários, e a televisão online, com informações institucionais, emissão em directo, arquivo vídeo e áudio, publicidade, grelha de programação e galeria de fotos.

O "Infordiáspora" apresentará também um programa radiofónico, "Voz da Diáspora", que versará "orientações pertinentes sobre determinados assuntos" importantes para os emigrantes, dando conta das suas necessidades e preocupações.

Na intervenção feita no lançamento do "Projecto Infordiáspora", o presidente do IC de Cabo Verde, Álvaro Apolo, salientou o "momento histórico" concretizado com a iniciativa, realçando tratar-se de um "primeiro passo" para futuras acções, que passam por tornar o portal "cada vez mais dinâmico e interactivo".

Álvaro Apolo indicou que o projecto envolve quatro eixos - apoio à consultoria do Ministério das Comunidades, "workshops" interactivos sobre temas ligados à emigração e reforço dos recursos humanos na informação, quer em Cabo Verde, quer na diáspora, e da capacidade tecnológica e de actividades na gestão da comunicação.

Para já, o novo canal contará com um "núcleo duro" de seis a sete jornalistas, liderado por Daniel Spínola, presidente da Sociedade Cabo-Verdiana de Autores (SOCA), poeta, escritor e actor, prevendo-se que, com o decorrer do projecto, possa aumentar a redacção, quer no país, quer na diáspora.

No ato de lançamento, o WEBTV Cabo Verde Global - com o endereço www.icwebtv.com.cv -, assinou um protocolo com o portal SAPO Cabo Verde (participada da Portugal Telecom) que prevê a disponibilização mútua de programas, vídeos, fotos e textos por um período de um ano, renovável.

Fonte: Lusa

14/12/2011

Santo Antão: IC socializa temática das migrações, família, diáspora e associativismo na ilha

Foto: asemana
O Instituto das Comunidades (IC), em parceria com os Centros da Juventude e Liceus dos três Concelhos de Santo Antão, levou a cabo ontem um workshop sobre migrações, família, diáspora e associativismo no Internato da Ribeira Grande. Mais de uma centena de pessoas, vindas do Porto Novo, Paul e Ribeira Grande participaram no encontro.

O sociólogo e investigador das Migrações, Júlio Santos Rocha, em representação do (IC), Celeste Monteiro, em representação da Embaixada de Luxemburgo em Cabo Verde e Paulo Rodrigues, em representação da Câmara Municipal da Ribeira Grande, presidiram ao evento.

“A importância da comunicação entre familiares na diáspora e em Cabo Verde, o reagrupamento familiar, os acordos de migração e de mobilidade entre Europa e Cabo Verde, a integração dos emigrantes e o associativismo” foram, de entre outros, os principais temas discutidos no encontro.

Declamação de poemas, apresentação de uma peça teatral e algumas mornas sobre a problemática da emigração, antecederam o início do workshop, que mereceram grandes aplausos por parte dos presentes.

Fonte: asemana

22/11/2010

Carlos Veiga quer transformar consulado cabo-verdiano em embaixada

De visita ao Luxemburgo, Carlos Veiga, líder do MpD e candidato às próximas eleições legislativas em Cabo Verde, reuniu-se este fim-de-semana com a comunidade cabo-verdiana no Centre Sócietere para apresentar as linhas mestras da sua política dirigida à diáspora, o seu rumo para Cabo Verde e ainda prometer trabalhar para criar uma embaixada no Luxemburgo.

Uma década depois de ter chefiado o governo de Cabo Verde, Veiga justifica o seu regresso à política, com as eleições já em início de 2011: “Achamos que foi desviada a dinâmica criada nos anos 90 e que podia ter conduzido Cabo Verde a um bom plano desenvolvimento. É preciso retomar outra vez o caminho do desenvolvimento e esse é o grande desafio deste regresso”.

Num encontro movimentado com sessão aberta a perguntas, o líder ventoinha viu-se purificado no fogo, sobretudo através de desafios lançados por elementos do PAICV e de alguns simpatizantes do MpD. Após o discurso esperado, foram vários os temas lançados pelo público, desde a segurança, desemprego, regionalização, recenseamento, obras públicas, etc.

Os momentos mais calorosos foram marcados pelas críticas de Antão Freitas, activista do PAICV, recebendo vários apupos quando ainda usava da palavra, já após ter ultrapassado os dois minutos determinados.
Já no final do encontro, a CABOLUX ouviu Veiga sobre a visita ao consulado, representado por Clara Delgado: “Vou colocar-me à disposição do nosso consulado para ser porta-voz das dificuldades que eventualmente existem, mas também porta-voz dos casos de sucesso.”
“Quando for governo, dada a importância do consulado no Luxemburgo, vamos ter a preocupação de o transformar numa verdadeira embaixada, porque o Luxemburgo é um parceiro fora de série de Cabo Verde e tem de ter também um tratamento fora de série”, acrescenta o líder do MpD.

Quanto às preocupações para com a diáspora, aponta a “preocupação permanente em relação à integração plena na sociedade de acolhimento; o papel do governo em criar um bom ambiente de recepção dos nossos imigrantes que vêm de férias ou regressam definitivamente a Cabo Verde.” 

Em terceiro lugar, “despartidarizar as relações entre Cabo Verde e as comunidades. Nas questões de Estado todos devem ser tratados com isenção, igualdade e não deve haver partidos. Os serviços têm de ser eficientes, não para criar problemas, mas sim para resolvê-los. Consulados e embaixadas têm que dar atenção à relação da nossa comunidade com Cabo Verde e isso faz-se com a ideia de que não há comissários políticos nas embaixadas.”
Por último, refere “o investimento da diáspora em Cabo Verde” também como linha de aposta.

Sobre as áreas prioritárias para o seu mandato, “primeiro temos de pensar nas pessoas, isso quer dizer, dar atenção a questões como o desemprego, pobreza, habitação, educação e saúde”. Depois desta fase aponta como caminho “o crescimento da economia aliado ao emprego de qualidade, que se faz através da criação de um bom ambiente de negócio, com investimento privado, seja nacional, emigrante ou estrangeiro.”

Perfil migratório de Cabo Verde
Em reacção à notícia do estudo “Perfil migratório de Cabo Verde” que dava conta de um aumento de 20% de imigrantes em 2009, na maioria da África Ocidental, e de um aumento da emigração qualificada, Veiga afirma que “como país pequeno, não podemos receber indiscriminadamente qualquer pessoa que vai para Cabo Verde, sobretudo os que para lá vão fazer uma competição no mercado de trabalho. Claro que somos a favor da livre circulação e da mesma maneira que queremos os cabo-verdianos bem integrados, queremos também os que lá estão a trabalhar bem integrados, regularizados, legalizados, a pagar os seus impostos e a contribuir para a segurança social, mas temos de criar barreiras a novas entradas de imigrantes condicionando a possibilidade de nos virem a criar problemas.”

Em relação aos emigrantes qualificados “precisamos de quadros, mas se calhar, se investirmos demasiado na educação vamos ter quadros em excesso. Exportação de quadros pode ser um dos serviços que podemos fazer, mas neste momento ainda estamos a precisar deles e não é bom sinal se os nossos quadros estão a ir para Angola ou outros países.

Dá o exemplo das câmaras municipais como fonte de absorção desses quadros “se apoiarmos, com certeza que as câmaras municipais podem ser uma fonte de absorção dessas mãos-de-obra qualificadas. Mas neste momento observamos o oposto, que é o governo a travar a admissão de quadros nos municípios, o que é inconcebível.”

CEDEAO
Sobre a recomendação feita a Cabo Verde para presidir a comissão da CEDEAO, Veiga afirma que “É bom e acho que devemos ser mais activos na CEDEAO para que este organismo seja posto num lugar certo que possa interessar a Cabo Verde. Acho difícil, mas se isso for conseguido é muito bom para Cabo Verde. Será uma boa medida e boa orientação de política que deve ser seguida. Se formos governo vamos continuar esta ideia de colocar quadros importantes em lugares de direcção na CEDEAO”.
HB

09/05/2010

Luxemburgo reforça ajuda financeira a Cabo Verde (11 e 12 Abril 2010)

(Foto: Gerry Huberty/CONTACTO)
O primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, foi recebido nesta segunda-feira pelo seu homólogo luxemburguês, Jean-Claude Juncker, na sequência do seu périplo pela Europa.
No encontro debateu-se o pacote de apoio financeiro a Cabo Verde, que Luxemburgo vai aumentar de 45 milhões para cerca de 60 milhões de euros.
Em cima da mesa esteve também o reforço da parceria em áreas estratégicas como as trocas comerciais, o turismo, a indústria e o nível das universidades. Outra hipótese avançada é a possibilidade da abertura de uma linha aérea entre os dois países para também reforçar o turismo luxemburguês em Cabo Verde.
   A novidade do encontro, no entanto, foi a parceria trilateral entre Cabo Verde, Luxemburgo e São Tomé e Príncipe.
   Recorde-se que antes de chegar a Europa, Neves passou por São Tomé e Príncipe, país que acolhe uma enorme comunidade cabo-verdiana que ainda passa por grandes dificuldades, e vê agora realizada a promessa que deixara ao seu homólogo são-tomense, Rafael Branco, de conseguir este apoio estratégico para São Tomé e Príncipe.
   Neves reuniu-se ainda com o Grão-Duque de Luxemburgo, Henri, o Presidente da Câmara dos Deputados, Laurent Mosar e com a Comissão dos Negócios Estrangeiros da Câmara dos Deputados para debater as relações entre os dois países e a política diplomática cabo-verdiana.
   Já no domingo, o primeiro-ministro cabo-verdiano encontrou-se com a comunidade na Abadia de Neumünster com o objectivo de “dialogar para avaliar o percurso e perspectivar o futuro.”
   Recordando o rumo e visão que tem para o país, JMN apresentou ao auditório as prioridades para “a profunda transformação do país”, que passam pela aposta no “turismo, transportes, cultura, aproveitamento do mar, tecnologias de informação e comunicação”.
   Outra aposta deste governo é “fazer de Cabo Verde o Luxemburgo daquela região africana, criando um centro financeiro, que até agora já conta com 12 instituições financeiras internacionais, 5 bancos e uma bolsa de valores”, refere.
   Mas para isto é preciso continuar a “investir nas potencialidades do país”.
   À cabeça dessas potencialidades está o capital humano e como prova disso, JMN referiu que “23% do orçamento do estado é dirigido à educação/formação, que conta com 50 liceus no país, 8 instituições de ensino superior suportando cerca de 10 mil estudantes”.
   Em véspera anual de eleições presidenciais e legislativas, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Carlos Brito, garantiu que “a partir de agora qualquer cabo-verdiano na diáspora pode obter a nacionalidade e se recensear”, usando os serviços consulares como Conservador dos Registos Centrais e desta forma também exercer o direito a voto.
   Com uma sala cheia, JMN teve ainda tempo para ouvir os agradecimentos e as preocupações da comunidade.
   A abrir a sessão das perguntas, o jovem António Lopes Tavares, manifestou a sua “indignação pelo facto de a formação não estar a conseguir ser a base de desenvolvimento social e humano na comunidade no Luxemburgo”.
   “Os filhos ainda não podem sonhar em ser melhor que os pais e é urgente criar um plano de reinserção dos jovens”, acrescentou.
   Entre as queixas, contam-se os preços exorbitantes da habitação, o aumento da desconfiança por parte dos bancos e a consequente dificuldade em obter garantias bancárias, o que está a gerar grandes dificuldades na comunidade.
   O auditório mostrou-se ainda atento às questões internas abordando a descentralização dos serviços, a revisão da legislação face à onda de criminalidade, a discriminação sentida pelos emigrantes quando estão de visita à sua terra natal, o hipotético cenário da construção de mesquitas e o financiamento do Banco de Desenvolvimento Árabe, entre outros temas.
HB

50 anos da presença da comunidade cabo-vediana no Luxemburgo (17 Março 2010)

A imigração cabo-verdiana no Luxemburgo começou no início da década de 1960, à semelhança da portuguesa. Hoje, “pode chegar aos 8 mil”, segundo números da Embaixada de Cabo Verde no Luxemburgo.
"Os primeiros cabo-verdianos a chegaram ao Luxemburgo, em 1963/64 vieram da Mosela francesa”, conta Pedro Santos (mais conhecido na comunidade pela alcunha de "Piduca", na foto abaixo), dirigente da Associação Luso-Cabo-Verdiana.

Segundo o presidente da Associação Amizade Cabo Verde – Luxemburgo, Firmino Neves, criou-se em Dommeldange o “primeiro grupo”, com Carlos Costa, Afonso Pires, entre outros, mas é a 31 de Agosto de 75 que nasce a primeira associação oficial cabo-verdiana – Ettelbruck, como dava conta o jornal CONTACTO na sua edição de Setembro de 1975 (pág. 3), levada a cabo por José da Luz e Armando Brito. Piduca ajuda nas contas: "E a 2 de Fevereiro de 1979 aparece a segunda, a Luso-cabo-verdiana, vulgo FC Amílcar Cabral". Hoje são cerca de 30 e nas mais diversas áreas de actuação e consoante as regiões em que os cabo-verdianos se concentram mais: na capital, Ettelbruck, Esch/Alzette e Differdange, revelam os dirigentes.

A chegada, a integração e a comunidade

Carlos Silva (acompanhado da esposa na segunda foto), hoje com 85 anos, estava no fim dos anos 50 em Metz e assegura que foi um dos primeiros cabo-verdianos a chegar a essa região.
“A integração não foi fácil. Eu trabalhava nas estradas e as condições não eram as mesmas de hoje”, recorda. “Depois vim para o Grão-Ducado, em 1959. A ideia não era ficar no Luxemburgo”, mas com a guerra do Ultramar, Carlos decidiu ir buscar os filhos a Cabo Verde antes de estes chegarem à idade da tropa e trouxe a família para cá.

Em 1974, com 18 anos, chega ao Luxemburgo João da Luz (terceira foto), filho de José da Luz (fundador da primeira associação cabo-verdiana no país). João confia que foi num dos liceus da capital que sentiu “os primeiros conflitos e discriminação” e lembra a mentalidade dos professores: “Os estrangeiros tinham de ter o mínimo de formação para irem trabalhar o quanto antes na construção civil.”
“O Luxemburgo era vazio em casas, estradas, imigrantes, mas os cabo-verdianos e portugueses tinham uma comunidade formidável, uma grande família”, recorda.
   Nelson Neves nasceu em Santo Antão e veio de Cabo Verde com sete anos de idade, em 1980. O primeiro choque foi com a “hora para a refeição, hora de brincar e da escola, foi dura a adaptação!”, começa por dizer. Em Diekirch “eram poucas as pessoas de cor e as crianças às vezes eram cruéis, chamavam-me negro e outras coisas”. Mas Nelson vingou na escola e formou-se em pintura e decoração.
   Fátima Monteiro, residente em Ettelbruck, deixou Portugal em 2003 sem hesitar. “Se me chamassem para a França, era a França, mas não houve escolha. Um amigo cabo-verdiano chamou-nos para o Luxemburgo porque não havia trabalho em Portugal", conta. E lembra que foi com a ajuda de uma portuguesa que encontrou o seu primeiro trabalho neste país.
   Humberto da Graça, residente na cidade do Luxemburgo, chegou de Cabo Verde em 1988 e lembra que foi “bem recebido”.
   “A comunidade era reduzida. Havia futebol e festas nos locais onde os cabo-verdianos se encontravam para tomar um copo e conversar”. "Hoje", ressalva, "a união mantém-se, mas está um pouco mais espalhada.”
Uma das recentes e bem coroadas chegadas foi a de Ana Santos, 32 anos, secretária na Citco Bank. “Nunca pensei vir cá para o Luxemburgo, até o momento em que fiquei desempregada em Portugal”. Mas se encontrou trabalho numa instituição bancária de prestígio, nem tudo o que veio cá encontrar lhe traz boas memórias. Recorda como em 2008, da casa de uma amiga portuguesa que vivia na rue de Strasbourg (na capital), via “a parte da comunidade cabo-verdiana menos integrada, com as suas festas, confusões e brigas". "Tínhamos espectáculos de graça quase todos os fins-de-semana”, ironiza.

Preocupações e desafios

Para Fátima e Carlos, “o desemprego é hoje o principal problema da comunidade cabo-verdiana”. Ana Santos apresenta outra visão: “Acho a nossa comunidade fechada, como a dos brasileiros, que fazem as suas festas apenas para si próprios”.
   Nelson, que passou pelo sistema de ensino luxemburguês, comenta o que conhece: “Fico triste quando vejo jovens cabo-verdianos a abandonarem os estudos, o que leva os luxemburgueses a pensar que o nosso povo não é capaz. Fico triste porque isso não corresponde à verdade”.
   Humberto também lamenta: “Há muito tempo que estamos aqui e temos ainda poucos quadros. Há qualquer coisa que não está bem no sistema de educação [no Luxemburgo]”. Humberto formou um grupo de contradança (dança típica cabo-verdiana) e confia que “gostava de ensinar as danças tradicionais do seu país aos mais pequenos, como forma de estes guardarem a sua cultura de origem”. Considera que a comunidade tem “ignorado a sua própria cultura, sem lhe dar apoio".
   João da Luz lembra que no seu tempo “o sistema escolar luxemburguês, já era muito baseado na língua alemã e isso travou a sua geração no acesso a um melhor emprego". E é por isso que alerta os jovens cabo-verdianos de hoje: "Sem formação podemos ser esmagados por outros”.
   Para Firmino Neves, "os problemas da comunidade são encontrar um patrão, ter um documento na mão, os preços exorbitantes da habitação e a falta de união na comunidade.”
   Já para Piduca, um dos problemas que a comunidade enfrenta e a que mais lamenta é a de “os luxemburgueses continuarem apreensivos em relação aos estrangeiros e sobretudo às pessoas de cor”.

Concretizações e oportunidades


“Hoje, tudo o que tenho é graças ao Luxemburgo”, diz Nelson Neves, que fora das horas em que pinta trabalha como funcionário do Estado num laboratório. “Pensava que trabalhar na Função Pública era só reservado aos luxemburgueses, mas é um erro pensar assim.” Conta como concorreu a um trabalho entre dois mil outros candidatos e conseguiu. O que o faz afirmar hoje peremptório: “Se eu consegui, outros também podem conseguir”.
   Nelson conta igualmente que teve apoio quando quis expor as suas obras em Paris e Cabo Verde. “O Estado luxemburguês dá apoios, mas a comunidade [cabo-verdiana] não apresenta projectos”, diz.
   Fátima concorda que o Luxemburgo tem muitos lados positivos: “Aqui pagam-nos salários razoavelmente bons. Se uma pessoa tem organização, consegue fazer a sua vida.”
   Na mesma linha, Humberto refere: “Conheço muita gente que viveu 40 anos em Portugal, mas só 10 anos daqui [Luxemburgo] têm mais vantagem do que esses 40 anos.” E revela-nos o seu sonho: “Gostava de ver um dia os filhos de cabo-verdianos a estudar na Universidade.”
   Ana Santos reconhece que “aqui há oportunidades e uma pessoa pode evoluir e fazer carreira.” O seu desejo era que “os cabo-verdianos pudessem naturalizar-se e ocupar cargos administrativos ou outros postos que normalmente são atribuídos a outras nacionalidades.”
   “Muitos conseguiram trabalho de forma honesta e adaptaram-se bem”, limita-se a dizer Carlos e a sua principal referência é a sua própria vida.
   João da Luz prefere deixar o mote: “Esta não é uma sociedade fechada, mas é uma sociedade de combate”.
   Para Piduca, “apesar de tudo, o Luxemburgo é um país acolhedor, porque mesmo no desemprego pode-se superar os problemas, melhor do que em outros países”. “Um cabo-verdiano que viva cá no Luxemburgo tem outra dinâmica de vida”, remata por seu lado Firmino.

Relação com as outras comunidades lusófonas


E como são as relações entre a comunidade cabo-verdiana e as outras comunidades lusófonas, quis ainda saber o CONTACTO.
   Se para Humberto “existe uma boa relação entre as comunidades lusófonas”, já para Ana Santos, “estas convivem quando têm de conviver, embora muitos tentem integrar-se.”
   Fátima diz que há “algumas desavenças, porque alguns portugueses pensam que são superiores a nós, mas no fundo entendemo-nos bem.”
   João da Luz recua no tempo e lembra que nos anos 70 “cabo-verdianos e portugueses viviam juntos, numa relação de amizade, mas a partir dos anos 80, os retornados de África trouxeram esse ódio com eles e houve fortes fricções”. "Hoje, no desporto estamos todos juntos, mas nas manifestações culturais, cada um organiza as suas coisas e, tecnicamente, não há lusofonia”, lamenta João.
   Nelson defende que devia haver “mais união, porque as nossas culturas têm muitas semelhanças, o português é língua oficial [de Cabo Verde], somos todos emigrantes e é mais fácil enfrentarmos os problemas juntos.”
   “O FC Amílcar Cabral entrou no campeonato português do Luxemburgo em 1981 e isso mostra que sempre houve laços. Mas, por outro lado, nesse campeonato não há equipas guineenses, brasileiras ou angolanas”, nota Piduca.
      
 Firmino lembra como nos anos 70, "éramos conhecidos aqui todos como portugueses", nessa altura, lembra, "não se falava de cabo-verdianos”.E para dar o exemplo da interculturalidade, Firmino (na foto ao lado) a sua própria associação: "a Amizade Cabo Verde-Luxemburgo ensina francês e luxemburguês a guineenses, portugueses, brasileiros, angolanos, são-tomenses e não só a cabo-verdianos. Temos trabalhado sempre juntos”.
HB

Juncker encontra-se com vice-presidente do maior partido na oposição de Cabo Verde (27 Fevereiro 2010)

(Foto: Anouk Antony/CONTACTO. Da esquerda para a direita: Nelson Brito, Jorge Santos, Miguel Sousa e Nelson Costa Brito)
O primeiro-ministro Jean-Claude Juncker recebeu na semana passada o vice-presidente do Movimento para a Democracia de Cabo Verde, Jorge Santos.
   Do teor das conversas entre os dois dirigentes nada se sabe. O gabinete do primeiro-ministro limitou-se a dar nota às redacções da realização do encontro.
   Jorge Santos conclui no domingo uma visita à comunidade cabo-verdiana no Luxemburgo. No sábado, apresentou a agenda política para as comunidades cabo-verdianas, num jantar organizado pelo núcleo local do MpD, na cidade do Luxemburgo.
   O vice-presidente do maior partido da oposição em Cabo Verde defendeu "a criação do Alto Comissariado Nacional para a Emigração, legitimado pelo parlamento, para evitar a partidarização na relação Estado - comunidades". Além deste órgão, a criação de um "Provedor da Emigração, como garante e reforço dos direitos dos emigrantes e um Observatório do Emigrante, sendo o órgão controlador do recenseamento geral dos emigrantes e do nível de integração social, política e económica nos diferentes países, funcionando em Cabo Verde e nas comunidades".
   Jorge Santos defendeu ainda a criação do Estatuto do Investidor Emigrante em Cabo Verde, que "visaria uma maior participação económica por parte dos emigrantes, gozando de um abaixamento fiscal e algumas isenções, tal como acontece para os investidores externos".
   O número dois da oposição quer igualmente reformar as tarifas alfandegárias nacionais "para uma maior participação dos emigrantes no desenvolvimento do país, através das remessas de bens móveis e imóveis".
   Com uma sala repleta de três centenas de militantes e representantes de delegações da Holanda, Itália, França e Portugal, e em véspera anual de eleições legislativas e presidenciais, Jorge Santos apelou à "união e participação mais activa dos cabo-verdianos na vida política e social". Não só o exercício do direito de voto nas eleições de Cabo Verde e Luxemburgo, mas verdadeiros actores políticos, tal como acontece com os cabo-verdianos nos Estados Unidos, Holanda e S. Tomé.
   Mas para tal, segundo o delegado local ventoinha, Nelson Brito, "há que ultrapassar o maior desafio da comunidade – o recenseamento".
   Do contacto com a comunidade, Jorge Santos leva algumas preocupações: as altas tarifas de voo praticadas pela TACV e pela TAP de e para Cabo Verde, as taxas alfandegárias e a diminuição da segurança em Cabo Verde.
  Durante a visita, Jorge Santos encontrou-se ainda com representantes da Lux Development para reforçar cooperação entre os dois países, tendo sido abordados o investimento na educação e formação profissional, a promoção das políticas de saúde pública e a qualificação de quadros.
  Na sexta-feira, Jorge Santos foi recebido pelo ministro Michel Wolter. Desse encontro ficou agendada para Maio a visita oficial de Carlos Veiga (presidente do MpD) para a assinatura de um acordo de colaboração entre o MpD e o CSV, partidos da mesma família política.
   No mesmo dia esteve com os presidentes de câmara de Ettelbrück e Luxembourg-Ville, de quem ouviu que "a comunidade cabo-verdiana é trabalhadora e a melhor integrada no país".
   A terminar a visita, efectuou ainda visitas de cortesia ao primeiro-ministro Jean-Claude Juncker e ao príncipe Guillaume, acompanhado pelo deputado pela imigração, Miguel Sousa e pelo deputado eleito pelo círculo de S. Nicolau, Nelson Brito.
HB