12/04/2011

Vítimas africanas da pilhagem dos oceanos alertam para os danos da pesca em larga escala

Sensibilizar as autoridades luxemburguesas e europeias sobre a pilhagem dos oceanos foi o principal objectivo do "Tour d'Europe", organizado pela Greenpeace em parceria com a Maison d'Afrique. Para além de um encontro com o governo luxemburguês, realizou-se neste Sábado uma conferência-debate, no Centre Societaire do Luxemburgo, que contou com o testemunho de três representantes de comunidades piscatórias da costa ocidental africana.

Segundo a FAO (Food & Agriculture Organization), nas águas da União Europeia, 88% dos stocks de peixe estimam-se em estado de sobre pesca, o que tem forçado frotas de pesca industrial da UE, nomeadamente Espanha, França e Holanda a pescar cada vez mais longe.

Praticamente no animato, já que não há meios suficientes de vigilância, documenta a Greenpeace que eles pilham a costa ocidental africana todos os dias e muitos deles com embarcações superiores a 100 metros, causando grandes danos aos recursos marítimos e às comunidades piscatórias africanas.

"Antes escolhíamos que peixe queríamos pescar, mas agora não e viemos dizer dos perigos que estão por vir", refere Issa Diop, membro de organização de pescadores e especialista da história da pesca, na Mauritânia.

O represente senegalês Mamadou Thioune aponta "a responsabilidade da União Europeia por usar as nossas águas, sendo que os armadores recebem subvenções para transferir a unidade de pesca para o Senegal, onde beneficiam do pavilhão do Senegal, pescam no mar do Senegal, mas depois o patrão é obrigado a descarregar o seu produto no norte, os salários são pagos no norte, assegura-se a alimentação do norte e o mais perigoso é quando esses produtos nos chegam do norte e dão cabo nosso mercado."

Do lado cabo-verdiano, Celestino Oliveira, presidente da associação dos pescadores de São Pedro (São Vicente), reconhece que "o peixe é o produto que ainda não importamos e é o garante da segurança alimentar de quase toda a população cabo-verdiana. É um recurso a preservar com unhas e dentes para que amanhã não venhamos a importá-lo."

Quanto às consequências, "se nos anos 80 os pescadores não precisavam de andar mais de 500 metros para pescar, nem usavam motores, hoje é impossível, pois temos de percorrer 20 milhas ou mais, gastando combustível e pondo em risco a vida de homens. As comunidades mais pobres, que praticam a pesca artesanal com pequenas embarcações, são as mais afectadas," acrescenta.

Para reverter estes danos, diz que "estamos aqui para sensibilizar. Que poupem os nossos recursos!" já que “não há meios suficientes para controlar a pesca não declarada, bem como a não regulamentada e a clandestina."

Do contacto com o governo luxemburguês, Maurice Losch, encarregado da campanha Oceanos da Greenpeace Luxemburgo, diz que as propostas "foram bem acolhidas, esperando agora que a nova regulamentação europeia da pesca venha a proteger os oceanos e as comunidades de pequenos pescadores, bem como a biodiversidade marinha e os ecossistemas submarinos que têm sido destruídos pela pesca de larga escala."

HB

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