21/02/2013

Estudantes cabo-verdianos no Porto obrigados à permanência ilegal por falta de apoios

Estudar no Porto com bolsas atribuídas pelo governo cabo-verdiano pode, em muitos casos, ser meio caminho andado para a permanência ilegal em Portugal.
De acordo com Iva Costa Almeida, cabo-verdiana de 32 anos que se encontra a fazer um mestrado na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), há muitos estudantes em Cabo Verde que, "ansiosos por sair do país", acabam por emigrar com falsas garantias, dadas pelo seu próprio governo, de que terão as condições mínimas para o estudo e sobrevivência.
Segundo a estudante que coordena a primeira Tertúlia Crioula Portuense, a realizar-se este sábado, dia 23, na Escola Profissional de Economia Social, no Porto, "os estudantes do ensino profissional que vêm de Cabo Verde são informados de que vão ter uma bolsa de alimentação e bolsa de transporte", para verificarem que não só não têm direito a alojamento, como lhes são atribuídos apenas 100 euros mensais de bolsa.
"A bolsa é muito reduzida", diz à Lusa Iva Almeida, contando que foi dito aos estudantes cabo-verdianos que "só no ano seguinte" à sua chegada teriam onde ficar, pelo que entretanto lhes foi sugerido que procurassem outros locais por si mesmos, junto de outros alunos conterrâneos.
"A falta de dinheiro faz com que muitos estudantes enveredem por cometer pequenos delitos ou por outras situações mais preocupantes", conta, estimando que, só no Porto, haja "em torno de 450 estudantes cabo-verdianos no ensino profissional e 300 no ensino universitário", todos sem alojamento definido à chegada e com bolsas de 100 euros mensais.
"Isso não dá condições nenhumas para um estudante ter uma vida de qualidade", prossegue a coordenadora da Tertúlia Crioula Portuense, explicando que "a partir do momento em que se encontram numa situação limitadora, passam a ter problemas na escola, têm que procurar emprego e, com a situação de crise em Portugal, não há emprego para os imigrantes."
Iva Almeida sublinha ainda que "muitos desses estudantes desistem e estão a emigrar para França, vão para Lisboa ou, não podendo estar regulares na escola, não conseguem renovar os seus documentos no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e, daí, transforma-se numa bola de neve, tornam-se imigrantes ilegais."
Também Décio Carvalho, estudante de 26 anos natural da Cidade da Praia, na Ilha de Santiago, Cabo Verde, garante que "quase 100 por cento dos estudantes cabo-verdianos que vêm estudar para o Porto vêm com uma ideia ilusória daquilo que é a realidade."
Para este aluno da Faculdade de Direito da UP, que é também presidente da Associação de Estudantes Cabo-Verdianos do Porto, as condições que os bolseiros de Cabo Verde encontram "são muito diferentes" do que as que lhes prometem, para além de que partem com "a ideia de que 300 euros chegam para custear um mês de vida na cidade."
"Até colegas meus que vieram com isenção de propinas acabaram por desistir, porque não conseguiram suportar as despesas do mês, não conseguiram encontrar trabalho, tiveram que abandonar [os estudos] e nem sei onde estão muitos deles neste momento?", lamenta Décio Carvalho.
Para Iva Costa Almeida, "tanto o governo de Cabo Verde, como as próprias câmaras [municipais] e instituições cabo-verdianas que têm responsabilidade e que mandam os estudantes [para o Porto] deviam para organizar melhor todo o processo, pensando primeiro na parte da informação".
"Com a Tertúlia Crioula no Porto, queremos passar esta mensagem ao governo cabo-verdiano, através do embaixador e do cônsul cabo-verdianos em Portugal", conclui a mestranda em Engenharia Informática na FEUP, de modo a que "tenham mais cuidado, mais critério na seleção das pessoas e que tenham mais sensibilidade para acompanharem os estudantes que estão cá".
"Não se esqueçam que nós existimos, principalmente aqui, no Porto. Que existimos e estamos a passar dificuldades", alertou.

Fonte: Lusa
 

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