23/11/2012

Nélson Neves expõe 10 anos de pintura

Para celebrar os 10 anos no circuito das artes plásticas, o pintor cabo-verdiano radicado no Luxemburgo, Nélson Neves, expõe “Evolução”, patente entre hoje e 27 de Novembro. São 40 quadros do autor que podem ser vistos na galeria de arte Maggy Stein, no castelo de Betemburgo.

"Esta exposição serve para assinalar os dez anos dentro do circuito da pintura. Ao todo são 40 quadros, entre eles alguns novos e outros que fui pintando ao longo destes dez anos", diz o pintor ao Cabolux.
Cores vivas, movimento e energia são os ingredientes que Nélson Neves põe na balança para conseguir uma certa harmonia e equilíbrio no resultado final, sejam eles quadros abstractos ou figurativos. Neles podem ser apreciadas cenas quotidianas do folclore cabo-verdiano, mas também incursões fora do âmbito insular, mais universais.
"Posso pintar pescadores a arrastar botes, vendedoras de peixe, um agricultor com a enxada na mão ou ainda crianças a brincar na rua, mas não sou um pintor do folclore, desta ou daquela área específica. Não gosto dessas gavetas. Tenho a liberdade de mexer em tudo no mundo da pintura e gosto de experimentar coisas novas. Há pessoas que preferem as obras figurativas porque vêem aí uma realidade que lhes é familiar. Outras, preferem as abstractas porque elas mesmas podem ser mais activas e ver ali o que mais ninguém vê. Por isso, não me fico só por aquilo que é tipicamente cabo-verdiano e tento ir um pouco mais além."
Nélson Neves nasceu em Santo Antão e chegou ao Luxemburgo em 1980, com sete anos de idade. E foi precisamente durante a infância que descobriu o mundo da pintura.
"Comecei na pintura desde criança e com o tempo fui crescendo nesta arte, passando também pela formação. Foi todo um processo natural e quando assim é, nada é difícil, nada é forçado. As coisas saem espontaneamente e quando se gosta ainda mais fácil se torna".
Em 2001 expôs pela primeira vez, no quadro da semana Cabo-verdiana (em Rodange), e desde aí conta que as coisas mudaram.
"Até então pintava para mim e a partir daí comecei a tomar a pintura mais a sério. Foi-me abrindo algumas portas e hoje chamam-me para dar aulas de pintura em liceus e escolas primárias. Não sou professor, mas se me convidam é porque conhecem o meu percurso. A pintura deu-me também a oportunidade de viajar bastante, conhecer outras culturas, organizar ateliers de pintura no Luxemburgo, em S. Vicente, Praia e S. Antão. Se em França, no Luxemburgo ou em Cabo Verde as pessoas conhecem Nélson Neves posso dizer que é graças à minha pintura", reconhece o artista plástico.
Hoje, trabalhar na pintura é um "privilégio", e quando chega o desafio de enfrentar um novo trabalho a relação é de "entrega total", confia ao Cabolux.
"A pintura é uma grande paixão. Quando estou na fase de produção, o tempo não existe e essa relação com a pintura é de entrega é total. Não importa o tempo que passo à frente de um quadro, porque esse tempo, acompanhado pela música ou em silêncio, é um privilégio."
Em 2008 foi convidado Ministério da Cultura do Luxemburgo para expor na cidade da Praia. Diz que foi o acontecimento artístico mais marcante.
"O que mais me marcou foi a minha participação na "Semana do Luxemburgo", que decorreu na Praia, em Julho de 2008. Fui convidado pelo Ministério da Cultura do Luxemburgo e pela primeira vez tive a oportunidade de mostrar o meu trabalho na minha terra. A nível emocional foi uma experiência muito forte. Emigrei com sete anos e passados tantos anos regressei para mostrar o que aprendi lá fora."
Da experiência que teve no terreno destaca a "potencialidade" entre os jovens, a falta de material e formação, e reclama mais apoio à divulgação dos trabalhos artísticos dentro e fora do país.
"Temos muitos e bons artistas e também jovens pintores com talento. Trabalhei no terreno em Cabo Verde e pude constatar essa potencialidade entre os nossos jovens. Agora, o que lhes falta é material, formação e o apoio das pessoas. Quando um jovem pinta e se lhe dá uma palavra de incentivo isso é já um grande apoio para seguir nesta arte. Quanto ao trabalho dos nossos artistas devia ser mais divulgado dentro e fora do país. Da mesma forma, a crítica de arte em Cabo Verde é necessária. Não sei se ela realmente existe ou se anda desapercebida, mas tem de se mostrar para o bem do crescimento artístico." Quanto ao trabalho dos decisores políticos em prol da arte, Nélson Neves mostra-se também crítico e diz que é preciso um "trabalho de "raiz".
"Há todo um trabalho a ser feito pelos nossos decisores políticos. Um trabalho de raiz que invista a sério na educação artística dentro do sistema de ensino, que trabalhe com as crianças desde cedo. A arte é fundamental para o desenvolvimento de um país e merece uma maior aposta", refere o santantonense, que não vê com maus olhos a possibilidade de alguns artistas em dar aulas.
"Mesmo sendo alguém externo ao sistema de ensino, o artista seria sem sombra de dúvidas uma mais-valia na formação das nossas crianças e jovens. Não só pela experiência de vida diferente, mas sobretudo pela maneira como pode ensinar a ver a arte. Já agora, porque não um liceu de arte em Cabo Verde?", desafia o pintor.
A vernissage está marcada para as 19h de hoje. A exposição tem entrada gratuita e pode ser vista entre as 9h e as 19h no castelo de Betemburgo (13, rue du Châteaux).
Texto e fotos: Henrique de Burgo

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