Para celebrar os 10 anos no
circuito das artes plásticas, o pintor cabo-verdiano radicado no Luxemburgo,
Nélson Neves, expõe “Evolução”, patente entre hoje e 27 de Novembro. São 40 quadros do
autor que podem ser vistos na galeria de arte Maggy Stein, no castelo de Betemburgo.
"Esta exposição serve para assinalar os dez anos dentro do circuito da pintura. Ao todo são 40 quadros, entre eles alguns novos e outros que fui pintando ao longo destes dez anos", diz o pintor ao Cabolux.
Cores vivas, movimento e
energia são os ingredientes que Nélson Neves põe na balança para conseguir uma
certa harmonia e equilíbrio no resultado final, sejam eles quadros abstractos
ou figurativos. Neles podem ser apreciadas cenas quotidianas do folclore
cabo-verdiano, mas também incursões fora do âmbito insular, mais universais.
"Posso pintar
pescadores a arrastar botes, vendedoras de peixe, um agricultor com a enxada na
mão ou ainda crianças a brincar na rua, mas não sou um pintor do folclore,
desta ou daquela área específica. Não gosto dessas gavetas. Tenho a liberdade
de mexer em tudo no mundo da pintura e gosto de experimentar coisas novas. Há
pessoas que preferem as obras figurativas porque vêem aí uma realidade que lhes
é familiar. Outras, preferem as abstractas porque elas mesmas podem ser mais
activas e ver ali o que mais ninguém vê. Por isso, não me fico só por aquilo
que é tipicamente cabo-verdiano e tento ir um pouco mais além."
Nélson Neves nasceu em Santo
Antão e chegou ao Luxemburgo em 1980, com sete anos de idade. E foi precisamente
durante a infância que descobriu o mundo da pintura.
"Comecei
na pintura desde criança e com o tempo fui crescendo nesta arte, passando
também pela formação. Foi todo um processo natural e quando assim é, nada é
difícil, nada é forçado. As coisas saem espontaneamente e quando se gosta ainda
mais fácil se torna".
Em
2001 expôs pela primeira vez, no quadro da semana Cabo-verdiana (em Rodange), e
desde aí conta que as coisas mudaram.
"Até
então pintava para mim e a partir daí comecei a tomar a pintura mais a sério.
Foi-me abrindo algumas portas e hoje chamam-me para dar aulas de pintura em
liceus e escolas primárias. Não sou professor, mas se me convidam é porque
conhecem o meu percurso. A pintura deu-me também a oportunidade de viajar
bastante, conhecer outras culturas, organizar ateliers de pintura no
Luxemburgo, em S. Vicente, Praia e S. Antão. Se em França, no Luxemburgo ou em
Cabo Verde as pessoas conhecem Nélson Neves posso dizer que é graças à minha
pintura", reconhece o artista plástico.
Hoje,
trabalhar na pintura é um "privilégio", e quando chega o desafio de
enfrentar um novo trabalho a relação é de "entrega total", confia ao
Cabolux.
"A
pintura é uma grande paixão. Quando estou na fase de produção, o tempo não
existe e essa relação com a pintura é de entrega é total. Não importa o tempo
que passo à frente de um quadro, porque esse tempo, acompanhado pela música ou
em silêncio, é um privilégio."
Em
2008 foi convidado Ministério da Cultura do Luxemburgo para expor na cidade da Praia.
Diz que foi o acontecimento artístico mais marcante.
"O
que mais me marcou foi a minha participação na "Semana do
Luxemburgo", que decorreu na Praia, em Julho de 2008. Fui convidado pelo
Ministério da Cultura do Luxemburgo e pela primeira vez tive a oportunidade de
mostrar o meu trabalho na minha terra. A nível emocional foi uma experiência
muito forte. Emigrei com sete anos e passados tantos anos regressei para
mostrar o que aprendi lá fora."
Da
experiência que teve no terreno destaca a "potencialidade" entre os
jovens, a falta de material e formação, e reclama mais apoio à divulgação dos
trabalhos artísticos dentro e fora do país.
"Temos
muitos e bons artistas e também jovens pintores com talento. Trabalhei no
terreno em Cabo Verde e pude constatar essa potencialidade entre os nossos
jovens. Agora, o que lhes falta é material, formação e o apoio das pessoas.
Quando um jovem pinta e se lhe dá uma palavra de incentivo isso é já um grande
apoio para seguir nesta arte. Quanto ao trabalho dos nossos artistas devia ser
mais divulgado dentro e fora do país. Da mesma forma, a crítica de arte em Cabo
Verde é necessária. Não sei se ela realmente existe ou se anda desapercebida,
mas tem de se mostrar para o bem do crescimento artístico." Quanto
ao trabalho dos decisores políticos em prol da arte, Nélson Neves mostra-se
também crítico e diz que é preciso um "trabalho de "raiz".
"Há
todo um trabalho a ser feito pelos nossos decisores políticos. Um trabalho de
raiz que invista a sério na educação artística dentro do sistema de ensino, que
trabalhe com as crianças desde cedo. A arte é fundamental para o
desenvolvimento de um país e merece uma maior aposta", refere o
santantonense, que não vê com maus olhos a possibilidade de alguns artistas em
dar aulas.
"Mesmo
sendo alguém externo ao sistema de ensino, o artista seria sem sombra de
dúvidas uma mais-valia na formação das nossas crianças e jovens. Não só pela
experiência de vida diferente, mas sobretudo pela maneira como pode ensinar a
ver a arte. Já agora, porque não um liceu de arte em Cabo Verde?", desafia
o pintor.
A vernissage está marcada para as 19h
de hoje. A exposição tem entrada gratuita e pode
ser vista entre as 9h e as 19h no castelo de Betemburgo (13, rue du Châteaux).
Texto
e fotos: Henrique de Burgo
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