31/07/2012

Lisboa: emigrantes exploram retorno a Cabo Verde

A possibilidade do retorno de emigrantes cabo-verdianos ao país perante o cenário de crise e as condições de empregabilidade em Cabo Verde dominaram o debate promovido pelo sector do PAICV-Portugal. Esta sessão, que se revelou necessária ao esclarecimento da comunidade decorreu ontem no auditório Carlos Paredes, em Lisboa, Portugal.

A mesa, constituída pelo presidente da Câmara de Santa Cruz, Orlando Sanches, o deputado pela Europa do Partido Socialista português, Paulo Pisco, a coordenadora do PAICV/Portugal, Madalena Semedo, e a vice-presidente da Junta de Freguesia de Benfica, foi coordenada por Celeste Correia, ex-deputada e secretária da Assembleia da República portuguesa e actual presidente do Congresso de Quadros Cabo-verdianos na Diáspora. Tratou-se do primeiro encontro do PAICV/Portugal com a comunidade e serve de preparação para o encontro de comunidades, que se vai realizar em Setembro.

Celeste Correia explicou que a lei da nacionalidade é “uma boa lei”, pesem embora as pressões de Bruxelas para que Portugal aplicasse, desde 2007, a Directiva de Retorno. Disse que “[a lei da nacionalidade] é uma das melhores da Europa. Permite diversas situações em que o cidadão pode ter a nacionalidade cabo-verdiana, nomeadamente se a criança já fez a quarta classe, se um dos pais é residente em Portugal".

Sobre a directiva de retorno, contendo consequências mais gravosas, estipula que o emigrante sem documentação deve ser notificado primeiro e depois tem 30 dias para sair voluntariamente do país, se não conseguir legalizar-se. Explicou as incoerências das políticas europeias, cujos estudos apontam para uma Europa envelhecida que vai precisar de muitos milhões de imigrantes, mas que actualmente está a restringi-los com medidas que vão atingir os emigrantes.

Da assistência, onde estavam muitos elementos que se reuniam em grupo pela primeira vez, vieram preocupações com o desemprego e com as situações de sobrevivência de muitas famílias cabo-verdianas, algumas “a passar fome”, como foi denunciado. A formação das pessoas, as remessas dos emigrantes e a sua aplicabilidade, as possibilidades de encontrarem formas de trabalho, quer seja em projectos de empreendedorismo, quer com a participação de quadros qualificados no desenvolvimento de Cabo Verde, foram questões discutidas.
Outras preocupações levantadas vieram dos estudantes, que vêm de Cabo Verde para estudar em Portugal, pouco informados da realidade ou dos custos das propinas e acabam por ser colocados em zonas habitacionais muito distantes dos seus locais de estudo.

A participação dos emigrantes cabo-verdianos nas autarquias e o seu papel na ajuda à comunidade nos gabinetes das juntas de freguesia, assim como a ausência da comunidade imigrante no Parlamento português, nas televisões ou noutros centros decisórios do tecido social, foram equacionadas pelos participantes.
Um dos quadros participantes sugeriu que o governo cabo-verdiano crie em Lisboa um Consulado Geral, com preparação técnica adequada para resolver com maior eficácia os problemas da comunidade.
Já Madalena Semedo lançou um repto para a criação de um gabinete de apoio à comunidade cabo-verdiana mais carenciada, e apelou à união de todos para fazerem a força e criarem a corrente de solidariedade necessária nestes tempos de muita luta: "Nós temos um país. Podemos regressar ao nosso país, podemos ir trabalhar para Angola ou para outro país qualquer. O momento é para agirmos e sermos solidários para encontrar as soluções”, disse.
O encontro teve acompanhamento musical do tocador de gaita Julinho da Concertina, e uma exposição de fotografias da autoria de Alexandre da Conceição (Xan) intitulada "Ê Quêli, quê di nós”. Também foram expostas diversas peças de artesanato feitas com pano di terra de diferentes cores, como carteiras, porta-lápis, bandoletes, pregadeiras e cintos.
Fonte: asemana/OL

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