27/09/2012

Um caso à parte: Trabalhou num lar de idosos e agora é aí que está internada

Clara Santos trabalhou durante 26 anos a cuidar de idosos.
Aos 57 anos continua no mesmo lar, mas como paciente,
vítima de uma insuficiência renal que lhe reduziu a autonomia
Foto: M. Dias

Clara Silva Santos chegou ao Luxemburgo em Março de 1975. Faz parte dos poucos cabo-verdianos que se podem encontrar nos lares luxemburgueses e tal como Carlos Silva (ver artigo ao lado) não faz parte da “lista dos africanos” do Ministério da Família.

Clara Santos trabalhou durante 26 anos num lar na periferia da capital cuidando de idosos. Mas aos 57 anos, ainda que no meio de tantos idosos, era suposto encontrá-la a trabalhar. Mas não está, e nem pode. Este é mais um caso de cabo-verdianos em lares de idosos que o CABOLUX descobriu. Um caso à parte, de uma mulher frágil, sobre uma cadeira de rodas e com pensão de invalidez. Clara sofre de insuficiência renal há 12 anos e o tratamento de diálise impede o sonho de regressar a Cabo Verde.

“Regressar a Cabo Verde é o meu sonho, mas por causa da minha doença não tenho escolha”, lamenta a cabo-verdiana, que se viu confinada ao lugar onde trabalhava depois do divórcio.“Eu já não era uma mulher para o meu marido e depois do divórcio fiquei sozinha. Não podia ficar sozinha em casa e tive de respeitar o direito das pessoas. Tenho três filhos já adultos, que trabalham. Eles têm as suas vidas e devem fazer os seus caminhos. Quanto a mim, tive de fazer pela vida e fiquei aqui”, confia Clara Santos.

“Até pensei partir para Cabo Verde, mas a directora do lar propôs-me ficar aqui e garantiu-me um bom acompanhamento. Fiquei muito tocada com o gesto e não tive escolha. Apesar de saber que isto não é o lugar ideal para mim, porque ainda não tenho a idade para estar aqui, sinto-me como em casa. Tenho aqui ainda antigos colegas de trabalho, colegas luxemburgueses e alguns portugueses. Havia também muitos cabo-verdianos que trabalhavam aqui, mas depois da reforma acabaram por partir”, acrescenta Clara.

Antes da doença as visitas em família a Cabo Verde eram frequentes. Agora são os filhos que a vêm visitar. “Antes íamos a Cabo Verde de dois em dois anos, em família. Agora que não posso ir são os filhos que vêm visitar. Vêm quando têm tempo, porque trabalham e têm também as suas famílias. Não é fácil”, desabafa Clara Santos, apegando-se à atenção, profissionalismo e cuidados que recebe dos antigos colegas de trabalho.
 
HB

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