16/12/2010

Alunos estrangeiros no Luxemburgo na cauda do sistema educativo

Três anos após o último estudo PISA, Luxemburgo mais uma vez mostra resultados decepcionantes que ilustram a dificuldade de integração dos estudantes estrangeiros.
Os dados do estudo da OCDE revelam que os estudantes do Luxemburgo estão abaixo da média, que avalia a compreensão da leitura, a matemática e as ciências.

O sentimento de decepção, à hora da apresentação dos resultados foi patente na ministra da educação Mady Delvaux-Stehres.
“Estou decepcionada por esta estagnação. É a motivação que é dramática. Não chegamos a passar aos alunos o hábito de leitura”, lamenta a ministra.
Vários representantes partidários (Déi Gréng, DP, etc.) vieram também a terreiro criticar a política de educação do governo, reclamando um reforma no sistema.

A situação única no Luxemburgo, é uma verdadeira dor de cabeça para o sistema escolar, que não tem encontrado uma solução milagrosa para os últimos 20 anos. Um record de taxa de estudantes estrangeiros, um trilinguísmo nem sempre fácil de gerir, alfabetização numa língua estrangeira, todos os ingredientes estão presentes para fazer uma política educação nacional quase insolúvel. O problema aumenta e o mau resultado neste estudo PISA não tranquiliza as autoridades públicas nem famílias, mesmo tendo em conta a situação única do Luxemburgo em comparação com outros países que ensinam apenas num idioma.

O desafio da integração dos estudantes estrangeiros.
Com quase 37% dos estudantes estrangeiros, um número que continua a aumentar, o desafio é enorme: a integração dos alunos que não têm o alemão ou luxemburguês como língua materna. A ênfase deve ser colocada, em primeiro lugar, numa das línguas nacionais aquando da alfabetização. Se a tendência é seguir o alemão, a selecção do francês deve ser dirigida mais para os romanófonos (portugueses, franceses, italianos, etc.), porque para eles “o alemão não é intuitivo", lembra a ministra.

A luta contra a repetição e o atraso escolar, foram dois aspectos apontados ao Luxemburgo pelos peritos que realizaram o PISA 2009. Além disso, directamente ou não, os relatores do estudo põem também em causa o sistema escolar luxemburguês, por estigmatizar os alunos não germanófonos e de estratos sociais mais desfavorecidos.

"Mais do que a língua, é o estatuto social que se apresenta como handicap para a maioria dos estudantes. Factores da língua e da imigração paradoxalmente têm menos valor. O nosso objectivo deve ser o de reduzir as desigualdades sociais", disse a ministra.

No Luxemburgo, as diferenças de desempenho entre estudantes locais e os estudantes estrangeiros são mais pronunciados do que na média da OCDE. Em todas as três áreas avaliadas, os alunos locais estão largamente à frente dos colegas estrangeiros: 25 pontos para a compreensão escrita e matemática e 30 pontos para a cultura científica. Estas diferenças correspondem a um atraso na aprendizagem de um pouco mais de uma metade de um ano escolar. Estas diferenças são ainda mais significativas quando observamos as condições socioeconómicas. Alunos provenientes de um ambiente favorável têm até dois anos lectivos de vantagem face aos alunos mais desfavorecidos.

Mas o quadro não é muito negro. Ao contrário de outros países, o Luxemburgo pode sempre afirmar ser capaz de oferecer aos seus alunos avaliação em duas línguas: o plurilinguismo continua a ser uma realidade e um trunfo para o Grão-Ducado, onde os alunos falam pelo menos dois idiomas.

No âmbito do estudo PISA, o Luxemburgo optou por realizar um estudo nacional adicional para comparar a compreensão dos alunos na escrita do alemão e Francês. Concluiu-se que os estudantes que preferiam o francês não são estimulados ao máximo do seu potencial de aprendizagem e que falta saber quais os factores que jogam contra os alunos romanófonos no ensino do francês, já que os germanófonos se encontram melhores.

DIFERENÇA
O estudo descobriu que os estudantes estrangeiros não germanófonos económica e culturalmente desfavorecidos recebem, em média, entre 120 e 140 pontos a menos que os alunos locais, germanófonos e favorecidos.
Uma lacuna de aprendizagem de três anos.

CIDADÃOS DESDE TENRA IDADE
Além da linguagem e da ciência, as escolas básicas e secundárias são também transmissores também de valores morais e de cidadania. Desde 2008, cerca de 30 mil euros foram dispensados para formar melhor os alunos nas áreas de educação para a cidadania e Direitos Humanos. Um investimento útil, porque, em comparação com outros países, o Grão-Ducado também nesta matéria faz má figura.
HB

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