18/05/2011

Documentário “Cabralista” pretende reavivar o espírito de libertação

Amílcar Cabral serviu de inspiração ao autor Val Lopes.
Está para breve a apresentação do primeiro documentário de uma trilogia que revisita o espírito do histórico líder da Guiné e Cabo Verde – Amílcar Cabral. “Cabralista” é o título escolhido pelo autor cabo-luxemburguês Val Lopes.

Para o documentalista de origem santantonese “estamos num mundo euro centrista e precisamos de criar conteúdo africano no mundo das novas tecnologias. Desde os anos 90 que comecei a pesquisar sobre Amílcar Cabral e tive a sorte de reunir elementos novos que até a família desconhecia e este documentário surge porque Cabral merece ser reconhecido sobretudo nesta era em que o mundo desperta.”

Dessas pesquisas o destaque é o áudio, pois “um livro não diz a mesma coisa que Cabral falou com os Black Panters ou nas Nações Unidas, Argélia, ou ainda noutros lugares importantes por onde passou”, acrescenta Val.

Este documentário é apenas o primeiro de três, representando o presente “porque é dirigida aos jovens. O que é que os nossos jovens se lembram de Amílcar Cabral?”, pergunta. O segundo está em preparação e “é sobre o passado de Amílcar Cabral. Factos históricos e testemunhos de pessoas que viveram com ele.” A fechar a trilogia, “o terceiro é uma visão futurista sobre África, se não tivessem assassinado Cabral, Sankara, Lumumba e vários outros africanos com consciência, algo que prejudicou e ainda prejudica o continente.”

Sobre Cabral, relembra que “foi o primeiro africano a falar nas Nações Unidas defendendo a causa africana; foi recebido pelo papa, sendo Portugal um país católico por um lado e por outro Cabral, um “terrorista” pela causa africana, mas um libertador para muitos."
Contudo,"apesar das atrocidades, Cabral dizia que não foi o povo português que errou, mas o sistema institucionalizado em Lisboa que explorava não só a Guiné, Angola, outros países lusófonos como também Portugal. A libertação do sistema salazarista aconteceu também muito pelo trabalho de Cabral”, conclui.

Hoje como ontem, “o cabralismo é antes de tudo um movimento cultural libertador. Uma das primeiras medidas que ele tomou foi a criação da lei da música luso-africana, sem esquecer a Morabeza Records. Dizia Cabral que se queres ter a tua independência, tens de provar que tens uma cultura diferente”, mas hoje “a globalização é exemplo da contínua exploração, rica em propaganda como a anglofonia, lusofonia, francofonia e todas essas fonias baseadas na Europa. A economia segue a cultura, uma arma silenciosa”, lamenta.

Nesta linha e por cá, o documentalista defende que “se há algo que o Luxemburgo poderia aprender com Cabo Verde, modestamente, é como proteger a sua língua e cultura, pois num mundo globalizado corre-se o risco de sermos todos iguais.”

Questionado sobre como seria Cabo Verde se Cabral fosse vivo Val não esconde que "o rumo seria ligeiramente diferente. Neste momento Guiné precisa de Cabo Verde, mas Cabo Verde não está a assumir o papel que devia.”

O documentário vai passar na Radio Televisão de Cabo Verde a 5 de Julho, altura em que se comemora a independência e posteriormente em Boston e nalguns festivais para depois chegar a Luxemburgo.

HB

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